Programa Revitalização de Línguas Indígenas

                São várias as formas como a Kamuri tem contribuído para a revitalização de línguas indígenas. Registre-se, a propósito, que entre os fundadores da ONG, o linguista Wilmar D’Angelis e a antropóloga Juracilda Veiga já haviam atuado ativamente pela revitalização das línguas Kaingang e Nhandewa-Guarani em São Paulo entre 1998 e 2002. Desde que a ONG foi oficializada, em 2006, destacamos as formas de atuação descritas a seguir:

                Projeto Web Indígena

                Em 2008 lançamos, no Rio Grande do Sul, o Projeto Web Indígena, com um projeto piloto: o site Kanhgág Jógo, primeiro (e até hoje, único) website totalmente em língua indígena no Brasil. Estendemos as ações do projeto à grande maioria das áreas kaingang do Rio Grande do Sul, envolvemos também o Oeste de Santa Catarina, desenvolvemos ações junto ao povo Laklãnõ, criando um site Xokleng/Laklãnõ, e estendemos aos Nhandewa-Guarani de São Paulo e Norte do Paraná, criando o site Nhandewa.org. Por esse projeto realizamos mais de 20 oficinas de inclusão digital das línguas indígenas, mobilizando, em média, entre 25 e 30 participantes indígenas por oficina (550 a 600 participantes no total), envolvendo membros de cerca de 25 aldeias. Em 2019 o site Kanhgág Jógo foi transferido de hospedagem, e em 2020 foi desabilitado para reformulação (em andamento).  Veja notícia no Jornal da UNICAMP: Caingangue na rede.

                ELESI – Encontros de Leitura e Escrita em Escolas Indígenas      

                Os ELESI foram criados por Juracilda e Wilmar em 1995, no âmbito dos Congressos de Leitura do Brasil (COLE), promovidos pela ALB – Associação de Leitura do Brasil. Os ELESI foram, por mais de 20 anos, o único evento periódico aberto sobre educação indígena no Brasil. A partir da formalização da Kamuri, os ELESI passaram a ser promovidos por ela. E pela importância da escola para a valorização e fortalecimento das línguas ancestrais, e a importância das línguas ancestrais para o ensino escolar, o XI ELESI, realizado em Porto Seguro (BA) em 2012, teve por tema: Revitalização de língua indígena e educação escolar indígena inclusiva. Em 2019, declarado pela UNESCO o Ano Internacional das Línguas Indígenas, realizamos na UNICAMP o XI ELESI, com o tema: Revitalização de línguas indígenas: o que sabemos e o que precisamos saber.

                Programa de Revitalização das Línguas Indígenas em São Paulo 

                Por solicitação dos professores Nhandewa-Guarani e dos professores Kaingang do Estado de São Paulo, em 2013 criamos, em parceria informal com o Grupo de Pesquisas InDIOMAS (UNICAMP) e com a Coordenação Regional da FUNAI (CR-LISE), um Programa de Revitalização das Línguas Indígenas no Estado de São Paulo. Inicialmente (em 2013) o programa envolveu a Aldeia Nhandewa-Guarani de Nimuendajú, no meio-oeste paulista, e as Aldeias Vanuíre e Icatu, dos Kaingang, no oeste. Em 2015, a pedido dos professores Nhandewa-Guarani do litoral paulista, o programa foi estendido para as aldeias daquela região. Ao mesmo tempo, por breve período o programa atuou também com a comunidade Krenak de Vanuíre. Em 2019 o programa foi estendido aos Terena paulistas, e em 2022 assumimos compromisso de atuar também junto às aldeias Nhandewa-Guarani do Sudoeste do Estado (Itaporanga e Barão de Antonina).

                Entre 2013 e 2019 a Kamuri realizou, por este programa, cerca de 45 oficinas nas aldeias, todas com pelo menos dois linguistas atuando, todas com pelo menos 24 horas/aula. Resultados do programa, além da formação continuada prestada a mais de 60 professores indígenas (num período de 6 anos em que a Secretaria de Educação de São Paulo não realizou nenhuma ação nesse sentido), além dos resultados observados nas aldeias e nas escolas indígenas, com a retomada ou vitalização das línguas nas comunidades, o programa resultou na publicação de sete livros: 2 volumes de uma gramática pedagógica, um Dicionário Escolar, um Vocabulário, um livro de narrativas diversas (monolíngue, em Nhandewa), um livro com narrativa mítica e um livro etnográfico de interesse das comunidades. (as publicações do projeto podem ser baixadas neste site: )

                Publicações sobre Revitalização

                A experiência acumulada sobre processos de revitalização linguística, ao longo de anos (sobretudo por uma ampla equipe, entre 2013 e 2018), nos permitiu desenvolver uma tecnologia social bem-sucedida, que buscamos compartilhar de diversas formas. Uma delas foi a publicação de uma obra coletiva, lançada por ocasião do XI ELESI, no Ano Internacional das Línguas Indígenas, intitulada: Revitalização de línguas indígenas: o que é? como fazemos (Campinas: Ed. Curt Nimuendajú, Kamuri). O livro reúne relatos – por diferentes membros da Kamuri – sobre os projetos com Nhandewa-Guarani, Kaingang paulista e Krenak, além do Projeto Web Indígena*, e textos de reflexão teórica sobre os temas envolvidos: obsolescência linguística, processos de revitalização e investigação colaborativa.

                Realizado o XI ELESI, com o tema da revitalização, organizamos um novo coletivo para sistematizar as reflexões e lições tiradas da troca de experiências realizadas naquele evento, e publicamos, em 2020, o livro: Experiências brasileiras em revitalização de línguas indígenas (Campinas: Ed. Curt Nimuendajú).

(*) A experiência do Web Indígena foi objeto de uma reflexão anterior, apresentada no VIII ELESI (Dourados, 2010) e disponível na internet: Do índio na Web à Web indígena.