O Vice-Presidente da República, general Hamilton Mourão, que preside o Conselho da Amazônia, saiu-se com essa em uma fala a empresários: “Temos de reduzir o desmatamento ao mínimo aceitável”.
O governo Bolsonaro, que até o momento só tomou medidas que favoreceram a ocupação ilegal, a mineração ilegal e o desmatamento na Amazônia, viu-se de repente pressionado por dez grandes fundos internacionais de investimento (por sua vez, pressionados por seus clientes europeus e norte-americanos) e, como efeito dominó, por um certo número importante de empresários e associações de empresários brasileiros: ou o governo brasileiro se compromete com uma agenda (e ações concretas) de redução drástica da escalada de desmatamento da Amazônia (que em junho último atingiu um recorde > veja matéria do jornal O Estado de S.Paulo) ou o fluxo de dinheiro de grandes investidores deixará de chegar ao país.
Curiosamente, o todo poderoso ministro da Economia, Paulo Guedes, não deu um pio, mas o que o governo finalmente percebeu é que, se secar essa fonte de recursos que alimentam de fora a economia brasileira, o pós-pandemia irá afundar o país em uma recessão jamais vista por aqui.
O fato é que um significativo grupo de empresas e empresários brasileiros sentiram o incômodo e os riscos de perderem investimentos e negócios, e se apressaram a assinar uma carta manifesto dirigida ao Vice-Presidente (porque não há diálogo possível e ninguém mais acredita na permanência de Ricardo Salles). Entre os signatários da carta estão executivos de bancos (Bradesco, Itaú, Santander) e de multinacionais (como a Microsoft, Bayer,  Siemens e Shell) e CEOs de algumas das maiores empresas brasileiras (como Ambev, Natura, Suzano e Vale).
Com a água batendo lá “atrás”, o governo decidiu colocar o vice-presidente Mourão em campo, para dialogar com os investidores e com os empresários que agora se tornaram “amigos da floresta”. Ao mesmo tempo, a ministra da agricultura, ela própria uma empresária do agro-negócio, fez questão de divulgar sua opinião de que o agro-negócio não precisa do desmatamento na Amazônia, numa tentativa de inocentar quem até hoje (ou ontem?) mais contribuiu para a destruição daquele ecossistema. Pelo que disse a ministra, o agro-negócio agora está feliz em destruir o cerrado.
Depois de sua conversa com os investidores internacionais e da pressão das empresas no país, o general Mourão mostrou entender que há um grave problema envolvendo a péssima imagem do país no exterior (embora não seja próprio desse governo assumir responsabilidade por suas destranbelhadas políticas; antes, preferem acusar o “mundo” de campanhas de difamação e outras teorias conspiratórias sem fundamento).  E é para tentar melhorar essa imagem (e somente para isso e por isso, nada a ver com comprometimento em defesa da floresta) que o militar assumiu a tarefa de “fixar metas para reduzir o desmatamento”, segundo relatou o ex-governador do Espírito Santo, Paulo Hartung, presidente da Indústria Brasileira de Árvores (sic). E a meta – etéria, quase vazia – definida por ele, foi justamente: “reduzir o desmatamento ao mínimo aceitável”.
O que é, na cabeça de um general, o “mínimo aceitável”? Ou na cabeça da “indústria brasileira de árvores” ? Ou na mente do CEO da Vale que minera o coração da Amazônia?
Não há mais “desmatamento aceitável”, general. O Brasil não precisa, para ser rico e feliz, de derrubar sequer mais uma árvore na Amazônia. Ao contrário, não derrubar é o nosso futuro, econômico inclusive. É preciso ser bastante ignorante, ou bastante comprometido com a acumulação primitiva de capital que ainda vige em nosso país, para pensar diferente disso.

Lamentável e quase simbólica, nesse momento, a morte de Alfredo Sirkis, um dos grandes iniciadores do movimento ambientalista em nosso país.

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