KAMURI: RESUMO DAS ATIVIDADES MAIS RECENTES Newsletter 2020

Campanha SOS Tikuna

A pandemia, para boa parte do mundo, foi uma surpresa e – claro! – um flagelo. Para os povos indígenas, vítimas até hoje de invasões e ameaças recorrentes, desde a chegada dos colonizadores europeus às suas terras, não chegou a ser uma surpresa. Ainda nos dias atuais garimpeiros e madeireiros ilegais levam doenças para as quais os indígenas não têm imunidade e/ou recursos de autodefesa.

E o flagelo entre eles foi especialmente severo pela ausência de atendimento de saúde nas proximidades de suas aldeias. Mesmo os povos mais distantes das cidades ou isolados, acabaram por serem alcançadas pelo coronavírus, e em muitos casos ficaram à mercê da doença, sem acesso a informações, atendimento e recursos médicos, negados ou dificultados pelo governo federal. Várias estratégias e conhecimentos tradicionais foram recuperados pelos povos indígenas, que mostraram força, determinação e capacidade para impedir muitas mortes.

Mas, mesmo assim, foram perdidos para a pandemia jovens, anciãos e lideranças que eram, em vários casos, os últimos falantes de suas línguas e detentores de sabedorias ancestrais. Diante deste cenário de tragédia humana e cultural, nos apressamos em participar da resposta à crise. Desde o início do mês de maio/2020 a KAMURI coordenou uma campanha em apoio às comunidades indígenas Tikuna e Kokama do Alto Rio Solimões (estado do Amazonas).

Desde o início do mês de maio/2020 a KAMURI coordenou esta campanha em apoio às comunidades indígenas Tikuna e Kokama do Alto Rio Solimões (estado do Amazonas). Foram confeccionadas e entregues milhares de máscaras de proteção individual, produtos de higiene, limpeza e alimentícios durante a pandemia do COVID-19, incluindo pagamento do trabalho para pessoas das comunidades locais.

A campanha, iniciada por professores do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL), da UNICAMP, atendeu a um apelo inicial de um mestrando Tikuna daquele Instituto. Nosso objetivo foi o de intervir rapidamente para conter o crescimento de número de óbitos pela pandemia, em uma região deficitária em recursos públicos de saúde. Na condução da campanha estiveram envolvidos, além da Kamuri e docentes do IEL, também docentes da UFAM (Universidade Federal do Amazonas), da UEA (Universidade do Estado do Amazonas), do IFAM (Instituto Federal do Amazonas), da rede municipal de ensino de Tabatinga, do DSEI-SESAI e de comunidades Tikuna.

A partir de 29 de junho a KAMURI iniciou a segunda fase da campanha SOS Tikuna, ampliando a área de abrangência para o Médio Solimões, onde muitas comunidades indígenas carecem do mesmo apoio. Os Tikuna do extremo Oeste do Amazonas e as demais etnias na região também foram atingidos pela pandemia da COVID-19, e apelaram por ajuda para conter a propagação da doença em suas aldeias e para enfrentar as dificuldades de obter alimentos, especialmente as famílias residentes em áreas urbanas, como Tabatinga e Benjamin Constant.

Saiba mais detalhes clicando aqui.

Projeto Djaryi: resgate das sementes sagradas

Já implementado, com o objetivo de reintroduzir nas aldeias as sementes em risco de extinção, e preservar as técnicas agrícolas, a culinária tradicional e os rituais sociais e religiosos ligados a estas práticas.  A coleta foi feita em bancos de sementes em duas aldeias Guarani de Mato Grosso do Sul, para a reintrodução entre os Guarani Nhandewa, e entregues nas aldeias Nimuendajú e Nhamandu-Mirim, e junto aos Kaingang do Rio Grande do Sul, enviadas para Icatu e Vanuíre para os Kaingang Paulistas. Sementes de feijão, arroz, batata doce, abóbora, amendoim, vermelho e preto, milho preto vermelho e branco, entre outros, já foram plantados em algumas aldeias, sendo que em outras, a comunidade preferiu esperar o mês de janeiro, quando as chuvas são mais abundantes. Assim que as plantações estiverem estabelecidas, sementes e mudas serão oferecidas a outras aldeias, de modo que possam ser multiplicadas e mantidas, garantindo assim maior segurança e soberania alimentares às comunidades indígenas.

Horta comunitária/ Permacultura[1]

Já implementada e produtiva, em 900 metros de área na cidade de Campinas (estado de São Paulo). Trata-se de uma experiência agroflorestal, com plantações de árvores junto a canteiros de verduras, cereais, grãos e legumes, com o objetivo de formar pessoas interessadas nesta técnica e preservar sementes nativas e plantas nativas. Embora os cursos tenham sido interrompidos pela pandemia neste ano de 2020, a produção continua ativa e será implementada em 2021. Os cursos de Permacultura foram elaborados para indígenas e não indígenas, para serem ministrados tanto na horta comunitária em Campinas como nas próprias aldeias.

Projeto de revitalização de Línguas Indígenas no Estado de São Paulo

O Projeto de revitalização de Línguas Indígenas no Estado de São Paulo, que envolve cursos para indígenas e indigenistas, documentação, oficinas, seminários e publicações, tem sido um dos carros-chefes da Kamuri. A revitalização de uma língua em perigo de extinção não é apenas uma operação de salvamento de vocabulários, fonéticas e gramáticas, mas sim de um conjunto expressivo de subjetividades e formas de conhecimento, únicos e insubstituíveis. 

Cada língua indígena representa a experiência histórica de uma coletividade através do tempo, seus recursos imaginativos e estratégias de sobrevivência. O trabalho de revitalização de línguas indígenas pela Kamuri, portanto, é uma contribuição à preservação da riqueza e diversidade cultural e humana do país. Até o momento, já foram lançados livros das comunidades Nhandewa/Tupi-Guarani, Kaingang e Krenak do Oeste Paulista. As publicações fazem parte dos resultados do Programa de Revitalização de Línguas Indígenas no Estado de São Paulo, iniciado em 2013, em uma parceria da KAMURI com a FUNAI (Coordenação Regional Litoral Sudeste) e com o Grupo de Pesquisas InDIOMAS, da UNICAMP. Do dialeto Nhandewa/Tupi-Guarani foram publicados dois volumes de uma Gramática Pedagógica (Lições de Nhandewa-Guarani); uma versão ortograficamente atualizada e a primeira tradução ao português, pelos próprios falantes indígenas, de uma narrativa sagrada (Inypyrũ), e um livrinho monolíngue de narrativas históricas e ficcionais.

Já o dialeto Kaingang Paulista, com pouquíssimos falantes idosos das Aldeias Vanuíre e Icatu (Oeste do Estado), foi contemplado com a produção e publicação de um primoroso Dicionário Escolar, com cerca de 300 páginas em cores, perto de 3 mil entradas e cerca de 200 imagens. E no apoio à revitalização do Krenak foi publicado um Vocabulário unificado, reunindo três importantes vocabulários do idioma “Botocudo”, produzidos no século XIX, mas analisados em um estudo linguístico cuidadoso e transpostos para a ortografia atual usada nas comunidades Krenak de São Paulo e Minas Gerais. Além disso, um texto etnográfico valioso, escrito por Curt Nimuendajú, foi traduzido e publicado a pedido dos professores e lideranças Krenak. Esses materiais começaram a ser disponibilizados em forma digital na aba “Materiais” do site da Kamuri.

O Programa de Revitalização passou a abranger a língua Terena, em 2018, com a realização do I SENATE (Seminário Nacional em Língua e Cultura Terena) na UNICAMP, passando à realização de duas Oficinas na Aldeia Ekeruá (Meio Oeste Paulista) em 2019. As três Oficinas programadas para 2020 tiveram que ser suspensas em razão da pandemia. Nesse novo contexto, jovens voluntários da Kamuri, estudantes de Letras na UNICAMP, realizam estudos de documentação linguística do Terena, como subsídio para a retomada dos trabalhos diretos em aldeia.

Projeto de Games (Jogos eletrônicos em Língua Nhandewá/Guarani)

Dener Starsun aluno de Computação da UNICAMP foi convidado para apresentar à Kamuri o projeto, que foi concebido dentro da proposta de revitalização da língua indígena. Foram feitas oficinas com indígenas falantes desta língua para eleger os temas dos jogos, foram definidos alguns jogos e iniciados com a participação de jovens e crianças indígenas.

Mais informações sobre nossas atividades e prestações de contas podem ser encontradas na aba “Transparência” em nosso site.


[1]Permacultura é uma expressão originada do inglês “Permanent Agriculture” e foi criada por Bill Mollison e David Holmgren na década de 1970. Ao longo dos anos ela passou a ser compreendida como “Cultura Permanente”, pois passou a abranger uma ampla gama de conhecimentos oriundos de diversas áreas científicas, indo muito além da agricultura. Nos dias atuais, a permacultura transpassa desde a compreensão da ecologia, da leitura da paisagem, do reconhecimento de padrões naturais, do uso de energias e do bem manejar os recursos naturais, com o intuito de planejar e criar ambientes humanos sustentáveis e produtivos em equilíbrio e harmonia com a natureza. (Fonte: Núcleo de Estudos em Permacultura da Universidade Federal de Santa Catarina, UFSC). 

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