Nós, da Kamuri Indigenismo e Ação Ambiental, repudiamos veemente a iniciativa intimidatória deflagrada pela Polícia Federal contra a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), e à pessoa de sua coordenadora, Sonia Guajajara, sob a acusação de que a entidade teria difamado o governo federal através da websérie “Maracá”, divulgada o ano passado.
O mais espantoso é que a intimação se dá a pedido da Funai, entidade criada especificamente para cuidar dos interesses dos povos indígenas, e não os dos atuais ocupantes do governo federal. Somente uma Funai e uma PF totalmente desviadas de suas verdadeiras finalidades públicas de proteção à população brasileira (e em especial a indígena, no caso da Funai) poderiam se colocar à serviço de uma administração federal abertamente hostil aos direitos dos povos indígenas e complacente com os avanços de grileiros e garimpeiros sobre as terras e aldeias das populações nativas, mesmo as demarcadas há longo tempo.
A criminalização das práticas e discursos dos líderes indígenas tem um claro objetivo de intimidar e silenciar aqueles que veem, a cada dia com mais violência, seus direitos aviltados e suas vidas ameaçadas. Os povos indígenas não estão difamando autoridades públicas quando denunciam a violência de que são vítimas, violência esta que é fartamente comprovada por depoimentos, gravações e constatações de entidades defensoras dos Direitos Humanos, do Brasil e do exterior.
O genocídio de um povo não se dá apenas quando armas são disparadas contra ele, mas quando aqueles que deveriam protegê-lo se omitem, lhes negam seus direitos à saúde e à segurança, e até mesmo facilitam a ação daqueles que levam doenças e destroem seus meios de sobrevivência em seus próprios territórios.
Exigimos respeito ao direito constitucional dos povos indígenas à integridade de suas vidas e de seus territórios, e de se expressarem livremente quando se sentem ameaçados.
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