No séc. XVI, entre as etnias que ocupavam a região do Chaco, dois grupos intimamente aparentados se destacavam: os Guaicuru, na margem Oeste do Rio Paraguai, nas proximidades da atual cidade de Assunción; e os Mbayá, mais ao norte, na margem Oeste do Alto Paraguai. A partir de meados do século XVII, começaram a ocupar também a margem Leste do rio Paraguai, região do nosso Pantanal, avançando aos poucos para amplas áreas do que hoje é o Mato Grosso do Sul.
No final do século XVII, como resultado dos conflitos e das perseguições dos espanhóis, afastam-se de Assunción em direção ao norte. Mas ainda no começo do século XVIII seus grandes ataques se davam contra ocupações espanholas, e terá sido bem cedo, no século XVI, que tomaram contato com os cavalos espanhóis (cavalos andaluzes) e se tornado grandes cavaleiros.
Após a descoberta de ouro em Cuiabá, por volta de 1720, começa o estabelecimento de portugue-ses na região do Mato Grosso, crescendo a cada ano, e com eles a circulação de caravanas (as monções) de São Paulo a Cuiabá, e vice-versa, pelos rios pantaneiros. Aliados aos Payaguá, os Guaicuru passam a ser o grande pavor dos que seguem para Cuiabá ou de lá descem para o Sul. São contínuos os ataques a caravanas, muitas vezes com dizimação total dos viajantes, além de ataques a vilas portuguesas. Assim, no século XVIII, os Guaicuru se tornam o grande flagelo dos portugueses, e o grande “problema” a ser solucionado.
Coincidem, em certo momento, as expedições punitivas portuguesas com o fim das relações de mútua cooperação entre Guaicuru e Payaguá. Disso resulta que, em 1791, os Guaicuru aceitaram firmar um tratado de paz com os portugueses, por meio do Capitão General de Mato Grosso, João Albuquerque de Mello Pereira e Cáceres. O acordo foi assinado em 30 de julho daquele ano, e os indígenas foram representados por seus chefes João Queima de Albuquerque e Paulo Joaquim Ferreira. Os portugueses passam a ser, então, aliados dos Guaicuru em suas investidas contra as ocupações castelhanas na região.
Como aliados dos portugueses já por mais de meio século, os Guaicuru (ou Kadiweo, nome mais tarde empregado para se referir a eles) foram os primeiros a rechaçar a presença paraguaia em território brasileiro, ao se iniciar a Guerra da Tríplice Alianças (aqui chamada de “Guerra do Paraguai”). E, de fato, durante toda aquela Guerra, combatentes e regimentos Kadiweo foram decisivos para conter o avanço paraguaio. Em razão disso, ainda durante a Guerra o Imperador Pedro II teria prometido aos líderes daquele povo que mandaria marcar e garantir as terras deles no Pantanal, mas, segundo a memória oral do povo indígena, o acordo não foi cumprido, e as terras foram invadidas por militares e fazendeiros.
Fontes:
BERTELLI, Antônio de Pádua. Os fatos e os acontecidos com a poderosa e soberana Nação dos índios cavaleiros Guaicurús no Pantanal do Mato Grosso, entre os anos de 1526 e o ano de 1986. São Paulo: Uyara, 1987.
BOGGIANI, Guido. Os Caduveos. [1892]. Trad.: Amadeu Amaral Jr. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Ed. USP, 1975.
RIBEIRO, Darcy. Religião e mitologia Kadiuéu. Rio de Janeiro: Ministério da Agricultura / SPI, 1950.
1 comentário
Como sempre, as populações originárias são sempre enganadas e traídas pelos invasores nojentos e repugnantes.