As atividades ilegais, a violência e o abandono da atual diretoria da FUNAI têm levado a fome, o desespero e a morte a milhares de indígenas pelo país desde a posse, em 2018, do governo federal, que prometeu “não demarcar nem um milímetro de terra indígena no Brasil” e ainda desmontou o sistema de controle que defendia as terras já demarcadas e as áreas de preservação ambiental.
O caso do povo Guarani-Kaiowá, do Mato Grosso do Sul, é emblemático de como a situação se tornou aguda em determinadas regiões. O desmatamento e a expansão da área urbana causaram um grande êxodo de populações que viviam às margens do rio Mborevi-ry, em terras ocupadas desde tempos imemoriais. Estas pessoas se instalaram na periferia das cidades vizinhas, em condições precárias de sobrevivência.
Há um ano, cerca de 30 famílias decidiram iniciar um acampamento no seu antigo território, denominado Teko-Ava, na APP (Área de Preservação Permanente) da prefeitura de Naviraí, próximo à cidade de Dourados. A decisão de ocupar parte de seu antigo território foi decorrência do agravamento das más de condições de vida na cidade, durante e após a pandemia, sem lugar para plantar sua comida, sem trabalho para pagar aluguel e sem contar com nenhum tipo de assistência do poder público, além da violência e do preconceito que tinham que enfrentar cotidianamente.
Essas famílias – com 56 adultos e 65 crianças e adolescentes – estão instaladas em barracas de lona, e lutam pela demarcação da terra e pelo direito a atendimento de saúde e educação, e de viverem de acordo com sua cultura. Abandonados pelo poder público, eles têm contado com a ajuda de entidades da sociedade civil, como a RAIS (Rede de Apoio e Incentivo Socioambiental), do CIMI (Conselho Indigenista Missionário) e também da Kamuri. Sabemos que a luta não se esgota com estas doações, mas é preciso participar, do jeito que for preciso, ainda que dentro das nossas possibilidades, dos esforços de sobrevivência dos povos originários, em todas as suas múltiplas frentes.
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