Texto de Wilmar D’Angelis, linguista e co-fundador da KAMURI
Saímos de Campinas na segunda feira, dia 17 de outubro, rumo à cidade de Itaporanga, oeste do estado de São Paulo, onde nos aguardavam os professores de escolas Nhandewa-Guarani e também as técnicas e o supervisor da Diretoria de Ensino de Itararé, responsável pelas escolas indígenas da região. Os participantes representavam as aldeias Karugwa, Xondaro e Pyaú, além da Tekuá Porã, sede do encontro.
O objetivo da reunião era o de atender ao pedido das comunidades dessas escolas para elaboração do material didático. Começamos por um levantamento da situação deles em relação ao ensino da língua indígena. Os alunos são falantes nativos de português e decidimos começar com um trabalho em grupos discutindo como está se dando a alfabetização das crianças: se os professores têm tido sucesso ou se enfrentam dificuldades. Em seguida, foi levantada a questão dos problemas no uso e no ensino da língua indígena, oral e escrita. Por último, falamos sobre a motivação dos alunos quanto ao aprendizado da língua indígena.
Cada grupo fez o seu levantamento e o colocou depois em plenário, para compartilhamento das suas análises e conclusões. Trabalhamos, em seguida, com a sistematização desses dados. Deu para perceber, por exemplo, que um dos problemas que as crianças estão tendo com a escrita da língua advém do fato de que os professores têm escolhido alfabetizar nas duas línguas ao mesmo tempo, ou seja, enquanto as crianças ainda estão em processo de alfabetização em português, eles já vão introduzindo letras do alfabeto do guarani. Depois de discutirmos esta questão foi sugerido que eles tentem mudar esta prática.
Em seguida, conversamos sobre as expectativas deles em relação aos materiais didáticos. Ficou mais ou menos entendido que o interesse deles está, por um lado, nas narrativas, ou seja, que os materiais didáticos possam ser também uma forma de recolhimento da memória, e por outro, que sejam materiais voltados ao ensino e ao conhecimento da gramática pelos próprios alunos.
Existem alguns materiais que já foram feitos, na língua Nhandewa Guarani, mas alguns deles não chegaram até eles, o que eles vão tentar reverter. Mas alguns desses materiais são exclusivamente para o uso dos professores, enquanto que eles preferem que o material possa ser usado também pelos alunos, para que estes possam trabalhar e contrastar as questões de gramática do guarani em relação à língua portuguesa.
Consideramos este encontro muito produtivo pelas oportunidades de discussão dos problemas comuns, em especial a questão da motivação, que em algumas escolas é percebida como forte, enquanto que em pelo menos uma delas a falta de motivação dos alunos é vista como um desafio para o aprendizado da língua indígena.
Algumas das escolas, como é o caso da Tekoa Porã, trabalham com a produção de material lúdico, sendo esta uma questão na qual pretendemos investir ainda mais, além de outras possibilidades, como o uso da música e do teatro nas atividades de ensino da língua. Foi muito produtivo também o encontro pela oportunidade de discutirmos algumas questões conceituais relacionadas ao ensino de segunda língua.
Eles decidiram que não irão perder tempo na aplicação das ideias discutidas, sendo que já pretendem aproveitar datas de reuniões de planejamento e de estudo dos professores para avançar estas medidas. Eles já têm inclusive um encontro marcado com a Delegacia de Ensino que será aproveitado – em alguns casos o dia inteiro, em outros a metade do tempo – para se dedicarem à produção em conjunto dos materiais de narrativas.
Nos comprometemos a voltar lá em março de 2023 para novo encontro, quando
concluiremos juntos alguns destes materiais para suas escolas.
Alguns registros do encontro



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